segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Nilo de Perto

Por Camila de Oliveira Machado e Thayse Nascimento.

“A fotografia é o jeito que o fotógrafo escreve!”

Passava um pouco das cinco da tarde de quinta-feira, dia 22 de outubro, quando Nilo Biazzetto Neto nos recebeu na Portfolio, sua escola de fotografia. Numa casa antiga, que era de seu avô, administra o que hoje é uma das mais conceituadas escolas de fotografia do Brasil. É nesse ambiente bem familiar, localizado nas proximidades do Museu Oscar Niemeyer, que Nilo contou as peripécias de sua carreira.

Oriundo da capital paranaense, o despertar da paixão pela fotografia deu-se na faculdade. Formado pela PUCPR em Publicidade e Propaganda, usa pouco da sua especialidade de publicitário e muito do seu olhar de fotógrafo: “Na minha vida a fotografia tem toda importância, é vital!”

Na cozinha da Portfolio, local de encontro de professores e alunos, entre uma bolachinha e um café, falou sobre seu novo trabalho e os 15 anos de carreira. Grande admirador de Walter Firmo, espelhou-se em suas fotos para organizar sua última exposição denominada “Ritmos”. A mostra conta com 18 obras que mais parecem pinturas, que estão expostas desde o dia 3 de outubro, e ficarão até 20 de novembro, inaugurando a galeria de exposições da escola.

Nilo, que diz influenciar-se também pelo famoso Cartier-Bresson e Bob Wolfenson (fotógrafo brasileiro de moda), é fã do equipamento digital: “Ao contrário do que muitos pensam, não vejo o equipamento digital em conflito com o analógico. Acredito que veio como forma de democratizar a fotografia, possibilitando maior acesso aqueles que não dispunham dele. É claro que a vulgarização ocorreu devido à quantidade de fotos que se produz, mas o olhar é o mesmo, a única coisa diferente é a questão física.” Ressalta que equipamento moderno não é sinônimo de boas fotos.

A paixão por viajar fez com que o fotógrafo desenvolvesse o conceito próprio para sua fotografia, o de “Liberdade Fotográfica”. Para ele, viajar é muito relativo, e pode ser “dar uma volta na quadra”. Como roteiro para quem não quer ir muito longe indica Castrolânda, uma colônia holandesa - “lindíssima”. Conta que pretende conhecer a China por gostar das cores da cultura oriental, principalmente do vermelho. Confessa estar encantado com o mundo das cores: “Hoje prefiro a cor, amanhã pode ser o preto e branco, sou um camaleão”.

O artista, que começou fotografando com uma Olympus, analógica (lente 50mm-1.4), já sofreu preconceitos no início da carreira, quando não se valorizava a profissão. Hoje, segundo Nilo, há até certo glamour nela. Ao falar da equipe da Portfolio desabafa: “Conseguimos nos manter no mercado pela paixão que temos pela fotografia, e assim como Walter Firmo, também acredito que ‘ela’ tem a função de sobretudo educar”.


Durante a entrevista que durou cerca de 50 minutos, Nilo trajava uma calça jeans e camiseta branca. Mexeu por diversas vezes no cabelo, recebeu o verdureiro Valdemar com grande bom humor, e mostrou que não cabe apenas no rótulo de “fotógrafo de moda e gastronomia”. Ele é hoje, aos 34 anos e 15 de carreira, um clássico da fotografia brasileira. O homem simples, casado, com duas filhas, que tem como hobby cozinhar, timidamente revela um sonho: “Publicar um livro, afinal, penso que é o que todo fotógrafo quer. A fotografia é o jeito que o fotógrafo escreve”.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Nasci na época errada

As historinhas que as vovós contam não me satisfazem. Faço parte daquele grupo que não se contenta em não ter usado os vestidos de bolinhas, não ter visto os meninos com aqueles enormes topetes, não ter ouvido a banda preferida em um disco de vinil, não ter participado das conquistas do Brasil nas Copas, e principalmente, de não ter feito parte daquela geração que ia às ruas e lutava pelos direitos.

Os jovens, que já no final dos anos 50 andavam de motos ou lambretas, já prometiam mudanças de comportamento. Apresentavam uma rebeldia ingênua, sintonizada com o famoso rebolado de Elvis Presley. As moças, como um ato de liberdade, livravam-se das saias rodadas e passavam a usar calças cigarettes.

A década de 60 foi caracterizada principalmente pela “contracultura”. Definida como “um ‘movimento’ que questiona valores centrais vigentes e instituídos na cultura ocidental”, a contracultura fazia com que as pessoas se excluíssem socialmente, e assim negavam-se em se adaptar a opiniões e visões impostas e aceitas pela maioria. Acredito que com a explosão dos meios de comunicação, as idéias difundiram-se. Os jovens então, se libertavam das amarras tradicionais e livraram-se das famílias conservadoras.

Penso que o movimento ‘contra cultural’ mais conhecido tenha sido o movimento hippie. Famosos pelo feito de “Woodstock" (o qual daria vida para ter participado), os hippies eram contrários a qualquer tipo de guerra, tendo como principais valores “a paz e o amor”. No Brasil, ainda nos 60, a Une já paralisava 40 universidades. A Jovem Guarda fazia sucesso na televisão e ditava moda. E em plena ditadura militar, os estudantes realizavam passeatas de protesto, como a tão conhecida “Passeata dos Cem Mil”, além das greves operárias em Osasco (SP) e Contagem (MG).

Em 70, período dos muitos exílios, se usou injustamente a expressão “vazio cultural”. Mas ao contrário do que pretendia a censura, a produção foi rica, o que motivou diversas manifestações alternativas. Nomes como Gilberto Gil, Caetano Veloso e Chico Buarque serão sempre lembrados por mim, como aqueles que através da música, não abandonaram os ideais revolucionários, dos então jovens.

Os anos 80, dão as boas vindas à democracia brasileira, e nos mostram a força do povo no querer de eleições diretas.

Os “caras-pintadas”, em 1992, iam as ruas pelo impeachment de Collor. O movimento, de caráter estudantil, não aceitava os escândalos de corrupção, que hoje não nos faltam. As cores verde e amarela que estampavam os seus rostos, parecem não existir mais.

O jovem deixou dormir o espírito de revolução e a necessidade de mudança. Mas é em nós, jovens, que ainda acredito. Temos de assumir o lugar de vanguarda que sempre nos coube, para que não morra a crença de que teremos um futuro mais digno. "Afinal, quem é que nunca se inconformou com a metódica vida moderna, resultante de mais erros que acertos? Quem é que nunca se viu frustrado ao ouvir histórias e não participar delas? Quem é que entende o ridículo da nossa geração? Os braços cruzados, a falta de ação, a falta da busca por alma, a troca de tudo por papel?" Não quero ter que admitir que nasci na época errada e que minha geração não aspira por algo novo.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Obrigada Thoreau



Sempre fui próxima dos animais e da natureza, mas raras foram as vezes que refleti sobre a sua grandiosidade. Muito se fala sobre a importância da sua conservação e do pouco que ainda temos dela, mas quase nada se faz para revertemos o quadro. Informações essas, que se tornaram “clichês”.
Ao ler Thoreau me vi instigada a escrever a respeito. O escritor, que influenciou Gandhi, Martin Luther King e Leon Tolstoi, me fez perceber como o homem se sente superior a natureza, e não parte integrante dela. Ao contar em seu livro “Walden ou A vida nos Bosques” sua experiência de morar por dois anos em uma cabana que ele mesmo construiu as margens do Lago Walden, em Massachusetts, pude sentir a futilidade em que está mergulhada a sociedade, e o controle que essa sociedade exerce sobre mim.
O consumismo consome o homem. A necessidade de se ter sempre mais faz com que nos tornemos individualistas. O individualista vive em um estado permanente entre o indivíduo e as instâncias da vida social.

-

Em visita ao zoológico de Cascavel na última sexta feira, me deparei com a placa: “Não atire pedras nos animas!”. Infelizmente, não fiquei surpresa ao conversar com o tratador e descobrir que na semana anterior, o “jacaré do papo amarelo” foi encontrado com ferimentos feitos com paus e pedras por um grupo de “visitantes”.
O desrespeito à vida é claro, assim como a falta de responsabilidade coletiva. Não consigo perceber onde está à parte “humana” daqueles que se dizem “seres humanos” e racionais.

-

Há dois dias tornei-me vegetariana. Foi a maneira que encontrei de fugir do controle que a sociedade exerce sobre mim. Tarefa essa nada fácil. Por inúmeras vezes me vi tentada a um pedaço de salame, ou a uma simples sopinha de “anholine”. Ao ser questionada pelo “o porquê”, penso que há um exagero no consumo de carnes. A superprodução faz com que os animas vivam em condições não dignas, impedidos de se locomoverem ou terem acesso à luz do sol.
A indústria de carne é uma das maiores responsáveis pela poluição da água. Segundo o TAPS – Temas Atuais na Promoção da Saúde - “somente os animais criados para o consumo humano nos Estados Unidos produzem uma quantidade de excrementos 130 vezes maior do que a de toda a população mundial: 39.000kg por segundo. Uma criação de porcos média produz tantos excrementos quanto uma cidade com 12.000 habitantes”.
O desmatamento, o uso excessivo de água, o espaço para as áreas cultivadas, e a energia utilizada para essa enorme produção são outros aspectos que devem ser levados em conta, além de que “a redução do consumo diário de carne nos países desenvolvidos até 2050 ajudaria a limitar o aquecimento global” – dado este publicado na
The Lancet.

-

Não acredito que a solução para todos os problemas do planeta, em especial do meio ambiente, seja o vegetarianismo. Mas acredito que todos devem ter a preocupação, o discernimento, de que algo tem de ser mudado. Henry Thoreoau, ainda no século 19, já tinha a percepção da necessidade do homem em relação as suas aspirações morais e da natureza. Nós, no século 21, ainda não a temos.