sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Nasci na época errada

As historinhas que as vovós contam não me satisfazem. Faço parte daquele grupo que não se contenta em não ter usado os vestidos de bolinhas, não ter visto os meninos com aqueles enormes topetes, não ter ouvido a banda preferida em um disco de vinil, não ter participado das conquistas do Brasil nas Copas, e principalmente, de não ter feito parte daquela geração que ia às ruas e lutava pelos direitos.

Os jovens, que já no final dos anos 50 andavam de motos ou lambretas, já prometiam mudanças de comportamento. Apresentavam uma rebeldia ingênua, sintonizada com o famoso rebolado de Elvis Presley. As moças, como um ato de liberdade, livravam-se das saias rodadas e passavam a usar calças cigarettes.

A década de 60 foi caracterizada principalmente pela “contracultura”. Definida como “um ‘movimento’ que questiona valores centrais vigentes e instituídos na cultura ocidental”, a contracultura fazia com que as pessoas se excluíssem socialmente, e assim negavam-se em se adaptar a opiniões e visões impostas e aceitas pela maioria. Acredito que com a explosão dos meios de comunicação, as idéias difundiram-se. Os jovens então, se libertavam das amarras tradicionais e livraram-se das famílias conservadoras.

Penso que o movimento ‘contra cultural’ mais conhecido tenha sido o movimento hippie. Famosos pelo feito de “Woodstock" (o qual daria vida para ter participado), os hippies eram contrários a qualquer tipo de guerra, tendo como principais valores “a paz e o amor”. No Brasil, ainda nos 60, a Une já paralisava 40 universidades. A Jovem Guarda fazia sucesso na televisão e ditava moda. E em plena ditadura militar, os estudantes realizavam passeatas de protesto, como a tão conhecida “Passeata dos Cem Mil”, além das greves operárias em Osasco (SP) e Contagem (MG).

Em 70, período dos muitos exílios, se usou injustamente a expressão “vazio cultural”. Mas ao contrário do que pretendia a censura, a produção foi rica, o que motivou diversas manifestações alternativas. Nomes como Gilberto Gil, Caetano Veloso e Chico Buarque serão sempre lembrados por mim, como aqueles que através da música, não abandonaram os ideais revolucionários, dos então jovens.

Os anos 80, dão as boas vindas à democracia brasileira, e nos mostram a força do povo no querer de eleições diretas.

Os “caras-pintadas”, em 1992, iam as ruas pelo impeachment de Collor. O movimento, de caráter estudantil, não aceitava os escândalos de corrupção, que hoje não nos faltam. As cores verde e amarela que estampavam os seus rostos, parecem não existir mais.

O jovem deixou dormir o espírito de revolução e a necessidade de mudança. Mas é em nós, jovens, que ainda acredito. Temos de assumir o lugar de vanguarda que sempre nos coube, para que não morra a crença de que teremos um futuro mais digno. "Afinal, quem é que nunca se inconformou com a metódica vida moderna, resultante de mais erros que acertos? Quem é que nunca se viu frustrado ao ouvir histórias e não participar delas? Quem é que entende o ridículo da nossa geração? Os braços cruzados, a falta de ação, a falta da busca por alma, a troca de tudo por papel?" Não quero ter que admitir que nasci na época errada e que minha geração não aspira por algo novo.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Obrigada Thoreau



Sempre fui próxima dos animais e da natureza, mas raras foram as vezes que refleti sobre a sua grandiosidade. Muito se fala sobre a importância da sua conservação e do pouco que ainda temos dela, mas quase nada se faz para revertemos o quadro. Informações essas, que se tornaram “clichês”.
Ao ler Thoreau me vi instigada a escrever a respeito. O escritor, que influenciou Gandhi, Martin Luther King e Leon Tolstoi, me fez perceber como o homem se sente superior a natureza, e não parte integrante dela. Ao contar em seu livro “Walden ou A vida nos Bosques” sua experiência de morar por dois anos em uma cabana que ele mesmo construiu as margens do Lago Walden, em Massachusetts, pude sentir a futilidade em que está mergulhada a sociedade, e o controle que essa sociedade exerce sobre mim.
O consumismo consome o homem. A necessidade de se ter sempre mais faz com que nos tornemos individualistas. O individualista vive em um estado permanente entre o indivíduo e as instâncias da vida social.

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Em visita ao zoológico de Cascavel na última sexta feira, me deparei com a placa: “Não atire pedras nos animas!”. Infelizmente, não fiquei surpresa ao conversar com o tratador e descobrir que na semana anterior, o “jacaré do papo amarelo” foi encontrado com ferimentos feitos com paus e pedras por um grupo de “visitantes”.
O desrespeito à vida é claro, assim como a falta de responsabilidade coletiva. Não consigo perceber onde está à parte “humana” daqueles que se dizem “seres humanos” e racionais.

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Há dois dias tornei-me vegetariana. Foi a maneira que encontrei de fugir do controle que a sociedade exerce sobre mim. Tarefa essa nada fácil. Por inúmeras vezes me vi tentada a um pedaço de salame, ou a uma simples sopinha de “anholine”. Ao ser questionada pelo “o porquê”, penso que há um exagero no consumo de carnes. A superprodução faz com que os animas vivam em condições não dignas, impedidos de se locomoverem ou terem acesso à luz do sol.
A indústria de carne é uma das maiores responsáveis pela poluição da água. Segundo o TAPS – Temas Atuais na Promoção da Saúde - “somente os animais criados para o consumo humano nos Estados Unidos produzem uma quantidade de excrementos 130 vezes maior do que a de toda a população mundial: 39.000kg por segundo. Uma criação de porcos média produz tantos excrementos quanto uma cidade com 12.000 habitantes”.
O desmatamento, o uso excessivo de água, o espaço para as áreas cultivadas, e a energia utilizada para essa enorme produção são outros aspectos que devem ser levados em conta, além de que “a redução do consumo diário de carne nos países desenvolvidos até 2050 ajudaria a limitar o aquecimento global” – dado este publicado na
The Lancet.

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Não acredito que a solução para todos os problemas do planeta, em especial do meio ambiente, seja o vegetarianismo. Mas acredito que todos devem ter a preocupação, o discernimento, de que algo tem de ser mudado. Henry Thoreoau, ainda no século 19, já tinha a percepção da necessidade do homem em relação as suas aspirações morais e da natureza. Nós, no século 21, ainda não a temos.