quarta-feira, 14 de julho de 2010

Desabafo

Tão esperada, queridas férias!
Na correria de final de semestre confesso que não pensava em outra coisa. Férias, casinha, soninho... Porém, acho que não me acostumo mais com essa lentidão e falta do que fazer. É claro que ficar perto de quem gostamos é ótimo, ganhar o mimo da mamãe é melhor ainda, mas é entendiante não ter compromissos e prazos.
Ultimamente tenho pensado muito. Criticado meu querido Jornalismo. Crise existencial, talvez? Bipolaridade? Acho que toda crítica é bem vinda, que através da reflexão, e só dela, consigo por as idéias no lugar. Então, aí vai!
Aquele tão sonhado Jornalismo, pra mim poético, não existe mais. É duro saber que a única coisa que me imagino fazendo não passa de mais uma "empresa", mais uma, das muitas máquinas de fazer dinheiro. Hoje: VENDE-SE NOTÍCIAS. A faculdade de jornalismo não engana. É provável, e acredito nisso, que a raça de jornalistas seja a pior de todas. Muito interesse, mentira, status, puxação de saco. Sou quem conheço, quem me indicou, a filha de quem... E o EU? Não posso ser eu? Eu que simplismente gosto de escrever, ler, que sempre sonhei em trabalhar em uma redação, mudar o mundo, denunciar injustiças? Eu que sempre pensei em fazer diferente.
Não é blá, blá, blá. Todo estudante de jornalismo pensa assim - ou deveria. Sinto aquela vontade de escrever tudo aquilo que não consigo fazer sozinha. Aquela explosão de palavras, ou melhor, muito mais do que palavras, são sentimentos e ideias colocadas no papel, pro mundo me ouvir (esse é o jornalismo que não existe? o poético?).
A profissão de jornalista foi considerada a quarta mais estressante. Pode ser comparada ao médico: não se deixa um paciente pra amanhã, assim como não se deixa para publicar amanhã. A notícia, filha única, fica velha. Porém, devo considerar que o valor dado as diferentes profissões não é o mesmo, num mundo de status, como certeza o médico é melhor. (?)
Jornalista vive notícia, respira notícia, ouve notícia. Mas o que é notícia? Aquilo que é de interesse público? Serááá? De quem é o interesse hoje? A comunição está nas mãos de poucos que publicam o que convém (como já me esclareceu o grande Ramonet). Notícia é produto? Jornalismo é o que? Comércio? Li certa vez, que quem precisa do esclarecimento que traz o bom jornalismo, não é que aqueles que o leem, mas sim aqueles que limpam a bunda com jornal.
Ao espremer uma reportagem, não sai suor, sai sangue. E o reconhecimento? É quase sempre pessoal: "Eu escrevi uma boa reportagem!", além claro, da sensação de dever cumprido. Vale a pena? O editor de um jornal de Curitiba perguntou se vale. Se vale a pena prometer aos seus filhos que vai voltar cedo, e chegar quando eles já estão dormindo. Se vale a pena dormir na redação para enfim, conseguir publicar a tão esperada "notícia bombástica". Se vale a pena perder o Natal, a Páscoa com a família. Vale? E foi aí o início de toda essa reflexão.
A indagação que sempre surge ao final de tudo é: e agora, pra que curso vou? Foi no jornalismo que me encontrei. Sempre me senti perdida em todos aqueles cálculos, por exemplo. O que fazer se o jornalismo sou EU?
Lendo e relendo meu texto, com os dedos molhados e salgados de lágrimas, penso que esse pequeno espaço de férias -que me serviu de inspiração- já valeu a pena. Retiro o que disse no princípio. Acredito, e tenho que acreditar no tão sonhado jornalismo engajado, aquele que já citei. Pra mim, é poético.

5 comentários:

  1. Cuca,
    Gostei muito do seu texto e me identifiquei bastante com algumas partes. Sempre sinto dois lados: o da paixão e o da realidade que, no caso do Jornalismo, são vertentes opostas.
    Ainda tenho esperança de achar um caminho que me satisfaça. Até lá, não temos o que fazer senão já sentir o estresse da profissão que nos aguarda.

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  2. Hahaha, acabei lendo por acaso o seu texto e me surpreendi, já que meu ponto de vista sobre o jornalismo é bem semelhante. Me pareceu insuficiente toda a formação academica para um curso em que um dos cargos mais visados é o de fantoche na TV. Ou para representar interesses de cima.

    Se tornou bem claro para mim o quanto o "jornalismo poético" era diferente da realidade. E foi por isso que troquei de curso. E foi por reflexões parecidas que acabei largando outros três cursos. ;)

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  3. Camila, amei o seu texto. Me identifiquei muito, e acho que vários alunos de jornalismo também se identificariam. Também passei por uma "crise existencial" desse tipo esse ano, também pensei em desistir do curso, mas não consigo. Continuo acreditando em escrever por paixão, continuo adorando aquela sensação de ver a matéria pronta, depois de tanto trabalho. E não me imagino fazendo outra coisa. Espero que você chegue à mesma conclusão ou, então, encontre uma profissão que te faça mais feliz!

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  4. Parabéns, Cuka. Belo texto.
    Realmente suas conclusões são intrigantes. E não é só no jornalismo que é assim, infelizmente diante da filosofia de vida levada a cabo hoje no mundo (capitalista, globalizado, etc.) tudo vira "vende-se", a boa produtividade, nos nossos casos, está relacionada mais ao quantitativo do que ao qualitativo...
    Mas enquanto isso, força, continuemos a lutar. O interessante, ao meu ver, é gostar do que se faz, mesmo tendo em mente uma perspectiva utópica e distante da realidade do sistema em que vivemos. Resta-nos buscar uma consciência limpa e de "dever cumprido", como você mesma disse.
    Continue firme e bom trabalho (qualitativo) haha.

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  5. Oi amiga! Não tive coragem de ler o teu texto ainda, porque estou morrendo de dor-de-cabeça e ele é longuíssimo! Mas parabéns por criar um blog! Vou fazer isso também (meu medo é não conseguir parar de escrever). Pelo teor dos comentários já vi o que se passa. Aquelas nossas conversas de crise no jornalismo, né! Faz parte. Nós e toda a torcida do Flamengo (segundo o Nando).

    Força e coragem, já tentei desistir desse curso, mas a paixão é maior. Quem sabe depois de muito estresse decepção e pouco salário isso ocorra (ou não!). Veremos. Me demiti do estágio :D Mas ainda acredito que encontraremos nosso lugar dentro dessa profissão e vai dar certo.

    Juro que mais tarde lerei os teus textos, até porque a gente pensa muita coisa igual. Já sei que vou gostar.

    Continue escrevendo, faz bem à saúde! Hahahah

    beijinhos

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